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A entrevista coletiva na avaliação de trabalhos em grupo

  • Foto do escritor: SABELETRAS
    SABELETRAS
  • 3 de dez. de 2024
  • 6 min de leitura

Atualizado: 20 de dez. de 2024



Hoje quero falar um pouco de minha experiência com entrevistas coletivas na avaliação de trabalhos de grupos de estudantes. Embora meu contexto seja a educação superior, a ideia geral pode ser aplicada a diferentes situações e níveis de ensino.


O que são entrevistas coletivas? É um procedimento de avaliação da atividade de um grupo de estudantes que consiste em reuni-los para discutir e esclarecer pontos de seu trabalho em uma reunião de dez a vinte minutos com o professor. Essa atividade pode ser um projeto, um portfólio, a produção de um relatório de leitura, a construção de uma maquete, protótipo ou qualquer outro tipo de produto. Portanto, a entrevista coletiva ocorre ao final do processo e se distingue de reuniões de orientação do grupo. A entrevista coletiva pode inclusive ser um componente de atribuição de nota, juntamente com a avaliação do processo e do produto final. Na entrevista coletiva, o professor tem condições de perceber melhor a participação de cada estudante no projeto, sua compreensão dos conhecimentos necessários para a realização das tarefas e até mesmo sua habilidade de se expressar sobre a produção. Assim, a entrevista coletiva serve a objetivos formativos e somativos, indica os pontos fortes e as fragilidades dos estudantes individual e coletivamente e pode ser uma atividade integradora de diversas habilidades. Esse pontos e fragilidades podem ser retomados em outros projetos e atividades posteriores.


É muito importante que os estudantes fiquem sabendo que serão avaliados em entrevistas coletivas desde o momento em que os professores propõem a atividade ou projeto, pois esta é uma conduta justa e transparente para com os estudantes. Além disso, essa forma de avaliação não deve substituir as orientações periódicas e as instruções escritas para condução do projeto. A inclusão da autoavaliação e da avaliação por pares é uma opção adicional para os professores.


Na data marcada para a entrevista coletiva, o professor deverá se reunir com cada grupo individualmente. Na minha experiência, a entrevista era conduzida somente com os estudantes do grupo em sala de aula. Essa pode não ser a melhor opção para contextos do ensino infantil, fundamental e até médio, o que exigirá alguma adaptação da sala de aula e das atividades didáticas ou suporte de outros professores ou auxiliares. Além disso, o grupo entregará seu trabalho para o professor (na forma de relatório, projeto etc.), que poderá fazer referências a pontos específicos da produção dos estudantes.


O professor poderá tomar notas das explicações dos estudantes, utilizando um bloco ou folhas para anotações livres, uma rubrica ou um roteiro, dependendo de quanto se pretende padronizar a coleta das informações. De qualquer modo, será importante não demorar para registrar as informações. Na minha experiência, elas eram anotadas durante a entrevista e complementadas no intervalo entre a saída de um grupo e a entrada do próximo.


Embora essa modalidade de avaliação também sirva ao propósito de verificar o nível de comprometimento e participação de cada estudante e de todo o grupo, é muito importante que o professor demonstre uma postura positiva, interessado na produção dos estudantes, e disposto a discutir com eles os pontos positivos e as indicações de melhoria. Essa postura vai inclusive aliviar a tensão do momento de avaliação.


Durante a entrevista, o professor poderá alternar entre perguntas dirigidas a todo o grupo e perguntas direcionadas a estudantes específicos. Em geral, nesse momento é possível perceber que alguns estudantes assumem um papel mais protagonista e outros uma posição mais discreta. A situação de entrevista coletiva desenvolvida apenas com o grupo permite que o professor faça adaptações, estimulando uma participação maior de quem está mais calado ou aprofundando detalhes com os estudantes mais engajados e que tenham mais facilidade de expressão. Este é o momento em que o professor pode perguntar como os alunos dividiram suas tarefas e como avaliam sua própria participação e a de todo o grupo. A presença dos colegas em geral faz com que o aluno seja mais criterioso e honesto quanto à sua própria participação. Uma pergunta interessante é sobre quem cada aluno considera como tendo se destacado no projeto. Observe que a pergunta enfatiza algum aspecto positivo. É preciso tomar cuidado para que a entrevista não descambe para um conjunto de acusações e uma forma de limitar esse risco é por dizer claramente aos estudantes que esse não é o momento para resolverem suas diferenças.


Uma característica interessante dessa abordagem é que os estudantes podem se sentir à vontade para contar detalhes sobre o processo que talvez não aparecesse em um relatório escrito. A própria dinâmica de participação pode favorecer a lembrança de certos detalhes. Por isso, o professor deve ter o cuidado para não monopolizar a entrevista e não transformá-la em um interrogatório. O melhor é alternar entre perguntas para o grupo e perguntas para estudantes individuais, e entre comentários e perguntas do professor e manifestações dos estudantes. Aliás, esse também é o momento para elogiar, sugerir e fazer indicações que enriqueçam o trabalho dos estudantes.


Ao final da entrevista, o ideal é que o professor saia com uma compreensão mais clara da produção dos estudantes, e que esses tenham um senso de realização com o que puderam produzir. Evidentemente, será justo que os estudantes menos comprometidos não sejam igualados aos colegas na atribuição final de suas notas, mas o processo inteiro, incluindo a entrevista, deverá deixar claro para este estudante as razões para sua avaliação ser menor. De preferência, porém, todo o processo de acompanhamento e a entrevista coletiva deverão funcionar como um motivado para mais engajamento de todos os estudantes.


Na minha experiência, solicitei aos estudantes a produção de análises de livros didáticos, elaboração de atividades de ensino, pesquisas à base dos textos teóricos estudados e discutidos em aula. Cada professor, dentro das particularidades de sua disciplina, seu nível de ensino, e seu contexto, poderá fazer adaptações. Mas que perguntas podem ser feitas durante a entrevista coletiva?


Conforme mencionado antes, é oportuno que haja espaço para manifestações dos estudantes e perguntas adicionais do professor. Pode-se, assim, dizer que a entrevista coletiva é um tipo de entrevista semiestruturada. A parte introdutória poderá consistir de uma breve explicação do que os estudantes fizeram e de como desenvolveram seu trabalho. A parte final poderá incluir elogios, recomendações e agradecimentos do professor, bem como uma pergunta sobre como foi a experiência de produzir aquele trabalho. Isso levará a conversa para um lado mais afetivo, para as lições práticas, para o senso de realização de solucionarem problemas e produzirem algo e até para suas relações com os colegas. O corpo da entrevista poderá se concentrar em questões mais técnicas, tais como:


  • Como vocês aplicaram o que estudamos em aula?

  • Que dificuldades tiveram na condução do trabalho? O que foi mais desafiador? Por quê?

  • Como vocês resolveram o problema X?

  • Como coletaram as informações para desenvolver o trabalho?

  • Como foi o processo de escrita desse relatório? Como vocês transformaram a experiência prática em texto?


Não há exatamente um limite ou lista definida das perguntas que podem ser propostas durante a entrevista coletiva.


A entrevista coletiva deve ser vista como uma atividade complementar à outras etapas de um projeto, tais como a realização de tarefas específicas e a produção do relatório final. Por outro lado, ela pode ser uma alternativa à simples e fria entrega final de um trabalho escrito para o professor ou à tensão de um seminário. As vantagens da entrevista sobre um seminário é seu caráter mais dialogado. a liberdade que cada participante (estudantes e professor) tem para intervir e contribuir e até mesmo o fato da entrevista ser desenvolvida na ausência de outros colegas da sala de aula, que podem ficar dispersos durante apresentações de seminário. Além disso, para os estudantes do grupo, a entrevista é mais informal e menos tensa, contanto que o professor promova uma atmosfera positiva. Uma vantagem adicional das entrevistas sobre os seminários é que nelas dificilmente os estudantes recorrerão ao hábito de ler extensas partes de um texto tornando a apresentação enfadonha (se o seminário for uma opção para o professor nada impede de integrá-lo ao processo antes ou depois da entrevista conforme os objetivos do docente).


Enfim, a realização de entrevistas coletivas é uma opção interessante para professores e estudantes de todos os níveis, podendo ser adaptadas às diversas circunstâncias. Espero que esse texto tenha ajudado ao professor ou gestor escolar a considerar esta estratégia diferenciada de ensino e avaliação.


 
 
 

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