Fatores de restrição e fatores de influência em projetos de avaliação
- SABELETRAS

- 20 de dez. de 2024
- 4 min de leitura

Em meu artigo A conceptual framework to contextualise local language assessment literacy, desenvolvo um quadro conceitual para a reflexão sobre os fatores que influenciam projetos de avaliação no campo do ensino de línguas com consequências para o letramento em avaliação (Language Assessment literacy and competence I - research and reflections from the field, Cambridge Studies in Language Testing, vol. 55, editado pro Beverly Baker e Lynda Taylor, 2024). Nesse texto, destaco como professores envolvidos em projetos locais de avaliação (institucionais) podem assumir diferentes papéis sociais e lidar com uma conjuntura repleta de elementos que favorecem ou dificultam a condução do projeto e, portanto, moldam as aprendizagens que resultam em uma forma contextualizada de letramento em avaliação. Cada contexto vai necessariamente apresentar seus próprios fatores, sendo os fatores de restrição aqueles que dificultam o andamento do projeto, enquanto os fatores de influência favorecem sua condução.
Como exemplos, podemos dizer que a falta de recursos materiais constitui um fator de restrição, ao passo que uma solicitação institucional para a elaboração de um novo instrumento de avaliação de habilidades linguísticas configura um fator de influência sobre o projeto. A aprendizagem, porém, não resulta apenas do último, já que encontrar soluções para a falta de recursos materiais pode ser um elemento importante no letramento em avaliação à medida em que estimula a busca por alternativas enquanto se mantém presente o objetivo de se entregar um projeto de qualidade.
Em meu quadro conceitual, subdividi os fatores entre externos (relativos ao meio social, institucional e político macro) e internos (relacionados ao sujeito). Assim, é possível pensar em fatores de restrição externos e internos e em fatores de influência igualmente internos e externos. O referencial conceitual desenvolvido é bastante flexível para se pensar a realidade de diferentes contextos como escolas, universidades e até empresas que precisam conduzir processos de avaliação das habilidades linguísticas de estudantes e colaboradores.
Nesse texto, porém, não pretendo apresentar toda a discussão sobre o meu contexto, mas incentivar o leitor a pensar como em seu próprio contexto emergem esses fatores de modo a promover a prática e o conhecimento sobre avaliação de línguas por meio de projetos e da prática cotidiana. Para isso, proponho alguma perguntas de reflexão.
Que fatores internos de restrição e de influência para promover o seu letramento de avaliação e o de seus pares estão presentes em seu contexto?
Por exemplo, que conhecimentos sobre avaliação te faltam? Quais conhecimentos você já possui? O que sobre a avaliação de seus alunos gera dúvidas, incertezas e ansiedade? Até que ponto, você estaria disposto(a) a superar essas dificuldades por meio de cursos, leituras, novas experiências ou até projetos de pesquisa-ação e autoreflexão? Você teria a motivação necessária para liderar a busca por tais conhecimentos em sua equipe? Em caso afirmativo, que ações são necessárias? Em caso negativos, o que te limita: falta de tempo, desinteresse, receio do julgamento e resistência dos colegas? Essas questões podem ajudá-lo(a) a identificar os fatores internos que influenciam ou limitam a sua busca por conhecimentos que podem promover o seu próprio letramento em avaliação, bem como o de seus pares.
Que fatores externos de restrição e de influência para promover o seu letramento de avaliação e o de seus pares estão presentes em seu contexto?
Por exemplo. Existe uma disposição da sua escola pela busca de conhecimentos sobre avaliação? Isso é promovido ativamente ou pelo menos incentivado? Existem oportunidades para se instalar projetos para implantar novos instrumentos de avaliação? Seus pares têm uma atitude aberta ou desinteressada? Eles juntariam forças com você em um projeto para buscar formas alternativas de avaliar? As políticas educacionais vigentes, o regulamento escolar facilitam a busca por conhecimentos ou a implantação de projetos de avaliação? A postura dos estudantes, pais e responsáveis se mostra aberta à instalação de tais projetos? Em caso afirmativo, o que falta para começar? Em caso negativo, o que poderia ser feito para mudar esse cenário?
Além de refletir sobre essas questões, professores e gestores escolares podem também refletir sobre os fatores internos e externos de restrição e influência que impacta um projeto em andamento em que já estejam envolvidos, ou mesmo as práticas de avaliação rotineiras. Nesse caso, refletir sobre os fatores presentes no contexto poderá resultar em conhecimentos novos para professores individuais ou equipes e para os gestores pedagógicos. Tais conhecimentos podem ser bastante peculiares de sua realidade e a consequência pode ser um conhecimento mais profundo e estruturado sobre o próprio contexto.
Ao refletir sobre seu contexto de ensino e avaliação, considerando os fatores que viabilizam ou restringem as ações relacionadas aos papéis profissionais exercidos, os professores e os gestores escolares dão um importante passo em direção à sua profissionalização. Os resultados podem ser bastante promissores para a equipe e para os estudantes, que são, em última análise, os grandes beneficiados por estudar com uma equipe docente que se mantém ativa, aprendendo e motivada.
Gostaria de saber mais sobre como produzir um processo de instalação de projetos de avaliação e de reflexão sobre os fatores que impactam o projeto em seu contexto? Entre em contato: ladder.avaliacao@gmail.com

Comentários